Diversos autores discordam fortemente da idéia de que as recompensas extrínsecas sejam capazes de motivar as pessoas ou mesmo de alterar seu comportamento de forma perene.
Segundo Bergamini (1997), que contrapõe os dois conceitos de maneira brilhante, “percebe-se que, com base no controle extrínseco, as pessoas também se movem como se estivessem realmente motivadas; todavia, assim o fazem, simplesmente, porque elas tentam chegar às recompensas e tal comportamento se mantém somente enquanto tais recompensas estão visíveis. Outro aspecto importante é aquele que prevê que, enquanto as pessoas estão orientadas à busca das recompensas, estarão prontas a seguir o caminho mais curto possível para chegar o mais rápido que puderem a elas. Sem dúvida nenhuma, melhorar o desempenho por meio de fatores externos significa incrementar uma tendência a se fazer unicamente aquilo que será pago pelo dinheiro, deixando-se uma porta aberta a reações típicas de sabotagem. Não se conseguirá, por meio delas, um comprometimento mais profundo e duradouro com relação ao trabalho e à organização. Quando intrinsecamente motivadas, as pessoas são mais autênticas, desenvolvem maior capacidade de autonomia em administrar a si mesmas e são capazes de se relacionar com os demais de maneira mais profunda.” (...)
Assim, apesar da utilização freqüente do termo motivação extrínseca, a maioria dos autores modernos considera que referir-se a estas técnicas de manipulação do comportamento como técnicas de motivação não seria adequado, pois as mesmas não chegam a tocar a verdadeira motivação, por definição intrínseca, que jaz no interior de cada indivíduo. Na verdade, essas técnicas de manipulação de comportamento meramente buscariam subornar o indivíduo a fim de colocá-lo em movimento, ignorando o genuíno interesse que ele pudesse ter previamente, por si só, pela tarefa diante de si.
As empresas, ao decidirem tratar seus trabalhadores como máquinas sem vontade própria, acionados por estímulos e mecanismos de manipulação, não podem exigir que os seus funcionários, após isso, reajam com comprometimento e iniciativa. Se a própria empresa os estimula e ensina a comprometerem-se com o dinheiro e nada mais, como esperar que os mesmos desenvolvam lealdade pela empresa e pelo trabalho de forma mais ampla? Como esperar que, nos momentos em que seja preciso um posicionamento mais consciente, a máquina à qual o trabalhador se vê reduzido seja capaz de fazer o que é certo, independente dos controles aos quais se vê submetida?
Enfim, é impossível colocar aqui no Blog toda a problemática e a argumentação relativas a esta questão. Mas achei interessante colocar esses fragmentos de dissertação.
(Publicado originalmente por J em 03/10/2006)
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