sexta-feira, outubro 27, 2006

"O medo de amar é o medo de ser livre para o que der e vier"

Irrefletidamente, poderíamos ler uma frase dessas e dizer, de bate-pronto: “É isso aí, tem que se jogar de peito aberto mesmo, sem medo de ser feliz!!” Ou então: “Medo de amar, EU?????”

Amar, na minha humilde opinião, implica uma entrega honesta de si mesmo, uma rendição sem máscaras ao outro e uma corajosa doação de si próprio.

Para entender melhor essa definição, vou citar algumas conseqüências dessa definição:

Amar o outro APESAR dos defeitos já não é o suficiente. É preciso amar TAMBÉM os defeitos (com exceção daqueles irreconciliáveis) e as pequenas imperfeições. As máscaras têm sua utilidade na selva do dia-a-dia. Mas, com a pessoa amada, se não há intenção de abandoná-las, ou se não há liberdade para isso, como poderia o amor evoluir para além da paixão ou do deslumbre inicial? Acho que isto é causa de muitas separações hoje em dia. As máscaras ostentadas durante o namoro não resistem à experiência do cotidiano e do ordinário.

Se dar ao outro e doar de si mesmo também é difícil. Difícil não, é FODA mesmo. Não dá mais para fazer só o que se quer. Um casamento não é um emprego de meio-expediente. Dois se tornam um. É óbvio que não é para ninguém se anular, mas o fato é que não dá mais para viver exatamente como se vivia antes. É preciso conciliar as manias e os jeitos, é preciso investir tempo, é preciso encontrar uma rotina que seja dos dois. Se doar, mas se doar de verdade, é tudo isso e muito mais.

Só para se ter noção do tamanho do desafio da doação, muitas vezes já é difícil ter a humildade para reconhecer que, na maioria das coisas de casa, não existe “certo” ou “errado”, mas sim o jeito da família de um e do outro. Ou alguém realmente acredita que haja uma norma internacional que ensine como pendurar uma porra de uma cueca no varal?? Se esse tipo de picuinha e de discussão pequena muitas vezes já ganha proporções capazes de sacudir um casamento, o que dizer das doações realmente difíceis de fazer, tipo assumir as dores e as mazelas da família um do outro, ou saber dividir de forma equânime a tarefa e as responsabilidades (hercúleas) de se criar os filhos.

Ainda tem alguém aí achando que se entregar à experiência do amor, sem medo, é mole?

Se entregar a esta experiência mais plena de amor pode ser uma experiência libertadora, mas é uma tarefa difícil. É trabalho para a vida inteira, muito, mas muuuuito para além das paixões adolescentes e dos amores de verão. É preciso coragem (ou seja, enfrentar os medos que podem sempre existir, na medida em que nos fazemos mais e mais vulneráveis e nus diante do outro). É preciso desprendimento e doação. É preciso amar muito.

3 comentários:

Jorge disse...

Você tocou num ponto legal, que é a medida exata da doação em um relacionamento. Acho essa questão muito difícil, saber se dar, doar, sem necessidade de cobrar de volta todo investimento feito. E ainda relevar erros, desculpas, problemas. Enfim, é foda mesmo conviver, mas acho que vale a pena. Afinal, qualquer maneira de AMOR vale a pena, né???

J disse...

Amor que é amor não segue receitas de bolo! Cada um, e somente cada um, é responsável por encontrar a sua própria liga.

Anônimo disse...

Eu concordo com tudo isso...e desde o inicio ja tinha falado que tinha MEDO mesmo...e quem nao tinha estaria mentindo!
hahahahahahaha
Abs