quinta-feira, outubro 05, 2006

Sobre minha filha - primeiro post de muuuuitos que virão

Sempre falo para a minha esposa: o amor da gente virou gente.

Lembro de uma professora na faculdade que dizia que o ato de reprodução deveria ser totalmente separado do ato sexual. No ato sexual, permaneceria tudo aquilo que é gostoso e que une um casal. No entanto, para a reprodução, deveria haver um ritual dolorosíssimo e que durasse horas de um esforço excruciante e que exigisse uma preparação e uma dedicação fervorosa, a fim de, finalmente, gerar uma criança. Dessa forma, ficaria assegurado que nenhuma criança jamais nascesse sem ter sido muito querida pelos pais. É uma idéia maravilhosa mas, infelizmente, se fosse assim, a humanidade já estaria extinta há muito tempo...
Graças a Deus, minha filha não precisou de nenhum ritual excruciante de dor para que nós a amássemos e a quiséssemos desde muito antes dela ser concebida.

Isso não é força de expressão pois, ironicamente, a pessoa mais racionalista que eu conheço (eu mesmo) passou pela experiência do amor à primeira vista. Resultado: com duas semanas de namoro, o nome da Julia já estava decidido e, seis meses depois, os pais dela não suportaram esperar o tempo ditado pelos protocolos e tabus e se casaram. Totalmente fora do "normal", ainda mais pelo contexto da época (papo para outro dia, quem sabe...). Mas funcionou. Estamos juntos e felicíssimos há quase 3 anos e o amor da gente acaba de virar gente.

Não dá pra descrever o que eu sinto pela chegada da nossa filha. Pegue todos os chavões, bata no liquidificador, misture com guaraná em pó e tome. Ainda assim, não vai chegar nem perto. Converso com ela toda noite, e toda noite tenho vontade de chorar quando ela, da pequenez de seus 5 meses e uns quebrados de gestação, reconhece a minha voz e começa a se mexer.

O processo já começou! Ainda nem a peguei no colo e já me vejo impulsionado a tentar enxarcar esse ser humano novo de um amor que, um dia, possa transbordar para o mundo através de uma pessoa que seja simplesmente feliz e capaz de fazer os outros também felizes. Sou eu, ali. É a mulher que eu amo, na mesma pessoa. E, ao mesmo tempo, uma pessoa totalmente diferente, que vou ter que descobrir e cativar.

Não entendeu nada? É, né........

Confie então em um racionalista de carteirinha: não é pra entender mesmo.

(Publicada originalmente por J em 24/08/2006)

Um comentário:

Jorge disse...

[Carla] [lunija@yahoo.com.br]
Hã?

26/08/2006 21:33



[R] [rachelmh@uol.com.br]
olá J, ao ler este blog fiquei emocionada. Primeiro por que sei exatamente de quem se trata todos os Js deste texto e depois de ver como é sublime a participação paterna num ato exclusivamente feminino. Sei que muitos homens, se pudessem, optariam por compartilharem a gestação com as esposas. Mas literalmente partilhar: o primeiro filho engravido eu, o segundo você, ok? muitas mulheres hoje escolhem nao ter filhos. Carreiras, tempo, noites de baladas não podem ser perdidas ou adiadas. Mas eu, como mulher, acho que a função do útero é unicamente a gestação. O ovário ainda tem uns hormonios com que se preocupar, mas o útero... só para o bebê! Quero sim, um dia, ter a sensação (gostosa? engraçada?) de ter um pedacinho de mim com uma vida (in)dependente da minha dentro de mim. Alguém que vai herdar parte das minha qualidades e defeitos, dos meus valores e do que eu aredito ser verdadeiro. Achei que não ia conseguir escrever muito, o espaço acabou. desculpe-me os erros ortográficos. bjs