quinta-feira, outubro 05, 2006

"V" for Vendetta

Vi um filme esse final de semana que me botou para pensar. "V de Vingança" ("V for Vendetta"), dos pinéis irmãos Wachowsky, aqueles mesmo do Matrix, baseado numa história em quadrinhos clássica do (sempre foda) inglês Alan Moore.

Resumindo (aconselho ver o filme antes de terminar o post, mas tb não vou escrever nada muito maior que a sinopse), o filme conta a história de uma Inglaterra tomada por um regime totalitário. As pessoas são constantemente vigiadas, os meios de comunicação sofrem censura, as liberdades individuais foram pro saco, toque de recolher, etc.

As coisas chegam a esse ponto quando a superpotência americana entra em colapso (o filme fala em atoleiro de guerras, guerra civil e guerra biológica). Com isso, a Inglaterra é forçada a endurecer e a se fechar, a fim de sobreviver à crise mundial. Vê se vc não tem a impressão de ter visto essa história antes: começam a cortar as liberdades individuais, "pelo bem e pela segurança da coletividade". Em pouco tempo, os islâmicos são expurgados do país, como ameaça à segurança nacional. Depois, rodam quaisquer opositores do regime de linha dura. Começam as prisões políticas, os desaparecimentos, torturas e mortes. Em pouco tempo, qualquer um que não viva segundo a cartilha do Estado passa a ser perseguido, seja por diferença política, de credo, de raça e até mesmo de opção sexual. Tudo que é diferente vira uma ameaça.

Em um dado momento, surge um líder de mão de ferro, o "Chanceler". Para consolidar seu poder e conquistar o apoio popular, eles se aproveitam da atmosfera de medo e, para potencializá-lo e usá-lo em seu favor, dizimam 80 mil pessoas (na Inglaterra mesmo) com uma praga biológica que eles mesmos criaram, colocando a culpa em grupos terroristas. Assim, o medo da população é alimentado e moldado, a fim de se criar um regime totalitário (e eu continuo com aquela sensação de "déjà vu").

Surge então uma figura, conhecida somente como "V", que passa a lutar por vingança e pela derrubada desse regime. Mas o que um único cara pode fazer contra um Estado opressor? A resposta é tão dura quanto óbvia. Táticas de guerrilha. Táticas de manipulação. Caçar e matar os cabeças do regime e forçá-los a expor suas mentiras. Enfim, TERRORISMO.

Nos dias de hoje, em que o mundo sofre com o terror, esse é um filme que faz pensar. Não sou a favor do terrorismo. Mas o Brasil também nunca foi ocupado, dominado, humilhado e bombardeado por causa das nossas reservas de petróleo.

Esgotadas as opções democráticas, do diálogo e da racionalidade, o que pode um povo fazer para se defender do jugo de um tirano, seja ele uma pessoa, um regime ou um outro país? Quem é capaz de dizer quando chega esse momento em que as opções se esgotaram e só sobrou o radicalismo? Quando é a hora de "chutar o balde"?

Deixar alguém sem opções é muito perigoso. Tenta encurralar um ratinho numa quina de parede para ver o que ele faz. Ele faz o que é preciso. Você pode ser muito maior do que ele e ter uma vassoura na mão, mas não está disposto a tomar uma simples dentada. Para ele, por outro lado, é matar ou morrer.

Um país bombardeia o outro para minimizar o número de baixas no seu próprio exército. Se o número de baixas civis do outro lado aumenta porque os aviões não sabem diferenciar uma escola de uma base militar, não é problema deles. Depois, quando o maluquinho surta e explode um avião cheio de civis, chamam ele de covarde. E ele, com certeza, é. Tanto quanto o comandante militar do outro lado que preferiu trocar as vidas dos seus militares pelas vidas dos civis do outro lado da fronteira. Mas os vencedores contam a história, né?

Os políticos daqui do Brasil deveriam prestar atenção a essa mensagem histórica que se desenrola agora diante da gente. O povo está muito quieto. Muito passivo. Afinal, ainda há opções democráticas. Podemos mudar tudo com nosso voto, não é mesmo? Não é???

(Publicado originalmente por J em 14/08/2006)

Um comentário:

Jorge disse...

[J] [j@hotmail.com]
Muito oportuno esse post em épocas de eleição. Porém, acredito que a curto prazo temos pouco a fazer. Como diria Cazuza, "eu vejo um museu de grandes novidades".