quinta-feira, outubro 05, 2006

Alguns aspectos da minha infância e meu amor pela leitura

Em relação ao post no qual o Jorge conta a origem da sua dificuldade em dividir as coisas, comigo tudo aconteceu de maneira muito diferente. Viver boa parte da vida no mesmo quarto com mais dois irmãos homens meio que força ao desapego pelas coisas materiais e à privacidade (rsrsrs).

Se, por um lado, isso me ensinou a me desapegar do que é material (até porque passamos alguns "perrengues" sinistros em termos de grana durante toda minha infância e adolescência), por outro lado foi uma experiência muito difícil para mim especialmente, pois sempre fui uma pessoa introvertida, forçada a viver durante muito tempo com uma privacidade restrita.

A título de esclarecimento acerca do termo "introversão", Jung logo em seus primeiros trabalhos define extroversão e introversão como resultantes da forma como nós obtemos energia. O extrovertido obtém energia sobretudo do mundo exterior, daí­ a sua necessidade de estar sempre cercado de pessoas. Aliás, ao extrovertido não basta estar simplesmente cercado de gente, mas é preciso que esteja constantemente interagindo com elas. O introvertido, por sua vez, tende a não depender muito do contato com o mundo exterior, obtendo energia de alguma fonte interna. Como resultado disso, o sujeito introvertido dá muito valor a seus momentos de "solidão" e reflexão interior, ou a atividades que exijam concentração e foco. Na verdade, o introvertido pode se sentir até "esgotado" após passar muito tempo em ambientes movimentados ou badalados. Ao contrário do que reza o senso comum, a introversão não é necessariamente sinônimo de timidez. O introvertido pode desenvolver habilidades sociais tão bem quanto o extrovertido é capaz de se trabalhar a fim de ser capaz de desempenhar bem uma tarefa que exija mais reflexão e foco. Existem, no entanto, "zonas de conforto" para cada tipo de pessoa, dependendo de seu tipo psicológico.

A junção da falta de privacidade com a introversão gerou em mim um amor imenso pela leitura e pela música, como formas de conseguir me "isolar" de qualquer tipo de balbúrdia que pudesse estar à minha volta. Se estiver com um livro ou uma revista interessante nas mãos, ou mesmo se eu estiver "viajando" por algum assunto interessante, o mundo pode cair à minha volta que eu nem noto. Tá achando exagero? Né não. É coisa séria.

Há uns 3 anos atrás, procurei a análise como forma de me trabalhar e ser capaz de lidar melhor com uma bomba que tinha caído na minha vida. A tal bomba é assunto para outro dia. O importante para este post é que, durante a análise, explorando outros aspectos meus e da minha infância, percebi que esse meu vício em leitura também pode ter sido influenciado pelo meu pai que, de um lado, sempre gostou de ler e sempre trazia muitos livros para casa (ponto positivo). Por outro, ele também sempre foi um cara muito explosivo e estressado. Assim, ficar no meu canto simplesmente lendo também acabava sendo uma ótima maneira de não ficar dando mole na frente dele quando estava estressado (o que era constante), evitando as explosões, os gritos e os climas de enterro resultantes. Minha infância e adolescência não foram lá muito fáceis, e isso também é assunto para outro post.

Resumindo, acho que meu gosto pela leitura vem de quatro pontos: 1) da minha introversão natural; 2) de uma necessidade de privacidade em meio a um ambiente sem privacidade alguma; 3) do exemplo recebido dos meus pais; e 4) da necessidade de ter que me "esconder" durante a infância, devido a certos probleminhas de família.

Acho que não terei controle algum sobre o temperamento da minha filha, e pretendo evitar a todo custo que ela passe pelos problemas que passei até a adolescência. Espero, sinceramente, que o simples exemplo seja suficiente para incutir nela o gosto pela leitura...

PS: Tem sido muito bom sair um pouco da minha zona de conforto e dividir este blog que, de certa forma, me estimula a romper a minha própria estanqueidade, de uma forma agradável. De vez em quando, é bom.

(Publicado originalmente por J em 05/10/2006)

Um comentário:

Jorge disse...

[Ed] [sargon_br@yahoo.com.br]
Adorei o seu texto e sua explicaçao pelo gosto pela leitura, aliás tenho que confessar que, acho que descobri depois de ler o seu texto, o porque não consigo me apegar aos livros...enfim..mas isso eh assunto para um post no meu flog. hehehehehe....Tb tive N problemas na infancia e fico feliz em saber que vc, estando consciente dos seus, acabará por não repassá-los a sua filhinha que está para chegar. Forte abraço.

05/10/2006 18:01



[Jorge] [jorge.aurelio@uol.com.br] [http://jjbullshit.zip.net/]
Qualquer movimento que nos faça mudar para melhor é válido. É bom saber mais sobre vc e ver que ainda tem tanto a falar. Então, abre mais uma cerveja e vamos continuar a prosa... rs