quinta-feira, novembro 09, 2006

Infidelidade - Parte I

Quando era criança, lembro de uma época em que, de vez em quando, pegava minha mãe chorando sozinha em casa. Ela nunca me dizia o que era. Inventava desculpas ou negava que estivesse chorando.

Algum tempo depois disso (acho que tudo aconteceu entre 1981 e 1984, mas não sei dizer exatamente, porque lembranças dessa época são sempre confusas e não há uma escala de tempo muito identificável), um dia meu pai não dormiu mais em casa. Lembro de ter perguntado à minha mãe o que estava acontecendo. Ela me disse que ele estava doente e que precisava passar as noites no hospital durante um tempinho até ficar bom. Lembro de ter rezado à noite para que ele ficasse bom logo.

Passado algum tempo, finalmente meus pais colocaram a mim e a meus dois irmãos menores no sofá da sala e começaram a contar que estavam se separando e que não iriam mais morar juntos, mas que estariam sempre com a gente, etc e tal.

No meio dessa história toda, lembro de um dia em que meu pai levou a gente na casa de outra mulher com quem ele já vinha ficando, para conhecê-la. Não lembro se disseram para a gente que ela era namorada do meu pai ou que era só uma amiga. Mas lembro que a minha mãe ficou meio desesperada, e ficava falando que os moletons da gente estavam curtos demais e que a gente parecia meio descuidado, mas acabou deixando a gente ir. Chegando lá, trouxeram para a gente uma caixa cheia de uns brinquedos que deviam ser de algum filho dela, sei lá. Só lembro que tinha uns brinquedos muito legais, inclusive um que me deixou alucinado, uma nave espacial maneiríssima, e que eu só queria brincar com ela. Chegada a hora de ir embora, eu obviamente queria continuar brincando com todos aqueles brinquedos novos e pedi para ficar um pouco mais. Meu pai, sabe-se lá porque diabos, teve a brilhante idéia de me fazer ligar para a minha mãe e pedir para ficar mais um pouco, pois pelo visto eles tinham combinado um horário para nos trazer de volta. Pedi para a minha mãe para ficar mais um pouco porque estava gostando de brincar por lá. Lembro perfeitamente da minha mãe desandar a chorar, a ponto de não conseguir falar mais nada, e desligar o telefone. Depois disso, repentinamente a minha vontade de ficar por lá acabou.

(Continua...)

3 comentários:

Jorge disse...

Ler esse post me fez lembrar da minha história. Isso fica para um post futuro. Ah, quero dizer que estou achando muito bom você escrever de "peito aberto". Isso me faz analisar melhor minhas defesas.

J disse...

É bom escrever sobre essas coisas, mas é por essa e por outras que eu não assino no blog. Meu nome é muito fácil de localizar na Web e não gostaria de fazer meu pai reviver em um blog tudo que aconteceu naquela época. Tem certas coisas que é melhor ficarem enterradas.

Mas acho que é importante contar essa experiência, porque tem certos pontos de vista que precisam ser devidamente embasados para serem entendidos e respeitados.

Anônimo disse...

A internet têm dessas coisas. Se vc procurar por Carla no Google, vai encontrar meu blog logo nas primeiras páginas. Então assim, se quiser privacidade na net, não tenha blog, orkut, myspace, lastfm, perfil no youtube, não assine em nenhum fórum de debate, esqueça o uso do messenger como ferramente de interação. Eu digo: por mais que isso tenha algum risco, os benefícios que a net me trouxe sempre serão infinitamente maiores =)
Moderação e bom senso em qualquer situação é sempre mto bem-vinda.