quarta-feira, junho 13, 2007

Arquivos do Passado

Todos nós carregamos experiências nas nossas vidas. Algumas são boas, edificantes, e nos fazem crescer e sermos pessoas melhores. Já outras, não nos levam a lugar algum e nos fazem ficar estáticos, sem poder evoluir. Mas o fato é que todos nós temos essas experiências, essas memórias, esses "arquivos do passado".
Como todo arquivo, essas coisas nos fazem relembrar momentos e nos definem quanto a nossa personalidade, nosso jeito, nosso caráter, nossa inteligência (pelo menos a emocional)... E tudo isso nos faz sermos o que somos. Essas experiências são objeto de estudo da psicanálise. Há anos eu faço psicanálise. E vejo como é difícil encarar tais experiências. Umas por serem extremamente dolorosas. Outras por serem difíceis até de se enxergar.
Lembro de uma passagem de um livro chamado "No ar rarefeito", no qual o autor, um jornalista que havia feito uma escalada ao Everest e quase todos da excursão em que ele estava morreram. Nessa passagem, ele conta que quando atingiu o topo do Everest, ele teve a sensação de que seria bom ficar ali sentado, admirando tudo, pois devido ao frio, fome e situação em que estava, a morte lhe parecia uma opção plausível, até agradável. Aquilo me tocou profundamente.
Faço um paralelo com nossas experiências. Muitas vezes elas nos marcam tão fortemente, fincam as suas garras tão profundamente em nossa pele, que parece que não tem mais jeito, pois o que não tem remédio, remediado está. Mas, como eu não quero sofrer da "Síndrome de Gabriela" (eu nasci, eu cresci assim e vou ser sempre assim...), decidi encarar meus medos e fantasmas, abrir as gavetas desse arquivo.
Já mexi na terapia com coisas bem fortes, mas que me fizeram ser uma pessoa melhor, mais bem resolvida hoje. Quem me acompanha há muito tempo sabe disso. A evolução é gritante. Só que, a medida que vamos fuçando esses arquivos, nos damos conta que existe bem mais coisas do que acreditávamos no início. Como se diz na gíria, o buraco é mais embaixo...
Vejo que alguns fatos, que pareciam não ser tão importantes, como crescer sem a figura paterna, por exemplo, me fez ter uma série de problemas que eu não esperava que tivessem relação com isso. E encarar todos eles é difícil pra cacete. Tem que ser muito macho!!!
Como eu quero ser feliz integralmente (se é que isto é possível), estou nessa luta de mim comigo mesmo. Estou decidido a me livrar das coisas que me prendem, quero poder evoluir mais, ser mais amigo e poder amar sem restrições e sem poder me magoar ou magoar alguém.
Acho que o trabalho mais difícil já foi feito, que foi a localização desses arquivos, saber o motivo de cada um deles. Agora, é a parte mais trabalhosa, que exige mais dedicação e perseverança: me livrar do que não presta. É o momento do levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Um novo Jorge tá vindo aí (modelo bem melhor). Quem quiser vir junto, será um prazer...

Arquivo II
Marina Lima

O brilho dos faróis
Me leva àquele hotel
Como num Dali, o quarto derreteu.
4:25, sobraram os copos e eu

Eu entendi muito bem o que você disse
Não houve engano algum
Nossa, você foi tão clara
Suas palavras ainda fervem na minha mente
E seu fogo ainda queima o coração

Acreditar, não posso acreditar
Como alguém tão livre se deixa escravizar
Desistir, como se fosse só deletar

Não houve engano algum
Eu entendi muito bem o que você disse
Não houve engano algum
Absolutamente, você foi tão clara
Suas palavras ainda ardem na memória
E aquele fogo ainda queima o coração

Outro dia quente, o mar envolve sem
Apagar dos olhos o brilho de quem tem
Um arquivo do passado e a fome do que ainda vem

Olha, o que tá dito, tá dito
E o que foi feito também
Mas certas coisas
Nem as palavras podem apagar
Nem o tempo, nem o fogo, nem a fome, nem o corpo, nem a alma
Nem as ondas, nem as praias, nem o mar
Nem o mar

4 comentários:

J disse...

Eu acho que fazer análise é uma oportunidade excelente de crescer, independente de estar passando por uma fase ruim na vida. Vale muito a pena, e só não faço agora pois a grana e o tempo estão sendo exigidos em outras áreas.

Lembro que meu pai fez análise na minha época de infância. Eu achava triste que, mesmo muito tempo depois, ele meramente usava o que tinha descoberto na análise para justificar as merdas que fazia.

Ou seja, ele ficou só na fase de descobrir as próprias mazelas e suas raízes históricas, e não fez absolutamente nada com isso, além de tentar justificar o continuísmo de muitas atitudes e comportamentos absurdos.

É como vc falou, a fase de auto-descoberta é difícil, mas é ainda mais difícil e exige ainda mais coragem ATUAR sobre essas misérias e tentar se aprimorar e lidar com todo dano que elas nos tenham causado.

Tenho certeza de que você vai conseguir! Só de tentar, já está demonstrando coragem e maturidade.

Abraços!

KahSilva disse...

Eu acho muito legal quem tem coragem de fazer análise, precisa coragem mesmo prá mexer em velhas feridas que nem sempre estão cicatrizadas.Parabéns pela tua coragem!O mais importante é aceitar que algumas situações,por mais doídas que sejam, não podem ser mudadas, mas podemos mudar sim,o modo como a vemos.Torço pelo novo Jorge, de coração.Apesar de que eu já gosto prá caramba desse aqui,hehe...E a vida segue.Beijos!!!!

Anônimo disse...

Coragem vc tem de sobra, eu sei. E sei que se vc estiver tão determinado quanto eu acho que está, esse novo Jorge ae vai ser bem mais respeitado e querido por quem já tem você no coração.
Te admiro muito por isso.
Abs

Anônimo disse...

Eu acho que os homens se dividem entre os que têm a síndrome de Gabriela e os que não têm (adorei o termo, eu sempre uso esse trecho da música pra ilustrar essas coisas). Vc é um vencedor! Encarar nossos medos de frente e tentar mudar o que não nos conforta não é pra qualquer um.