Esse assunto que o Jorge levantou é extremamente interessante. Tenho algumas reflexões a respeito.
1. Descobri que as grandes amizades não precisam de uma convivência intensa para se manterem. Dois dos meus melhores amigos foram morar em Porto Alegre e no Canadá, já há alguns anos. No entanto, nas raras vezes em que nos encontramos a cada ano, a alegria é sempre a mesma. A intimidade e a confiança não parecem diminuir, mesmo com todas as limitações que a vida acabou nos impondo (contatos por e-mail, Skype, viagens muito ocasionais). Isso me surpreendeu bastante, de uma maneira muito positiva.
2. Não sou daquelas pessoas que acham que precisam ter tempo para TUDO e para TODOS, ir a TODOS os eventos e estar sempre com TODO MUNDO. Se sinto que preciso de tempo para descansar e quero simplesmente ficar em casa, ou então se acho que preciso passar o final de semana somente com a minha esposa para namorar e regar a relação, muito dificilmente abrirei mão desse direito sagrado. Não adianta, já nem tenho mais a ilusão de que é possível agradar a todo mundo. Tem finais de semana em que não há nada para fazer, e outros em que mal daria para ir em casa dar comida ao passarinho, para ir a todos os encontros, aniversários ou eventos que surgem. Tento administrar as situações da melhor maneira possível, mas não me "esgoélo" tentando agradar a todo mundo. É óbvio que há que se fazer sacrifícios pelos amigos, e é gratificante fazê-los, mas não o tempo todo, nem muito menos em detrimento da própria intimidade e dos ritos da própria família. Os amigos verdadeiros certamente sentirão a nossa falta, mas serão capazes de compreender essas ausências eventuais (mais ou menos frequentes).
3. Guardando alguma relação com o item anterior, existe a questão de que, com a idade, a quantidade de fases que a gente vive se avoluma e, com elas, os amigos. Família, escola, banda, acampamento, UERJ, igreja, Inglês, Espanhol, Ipiranga, Michelin, mestrado, CVM... A situação se agrava substantialmente quando é preciso atender também aos compromissos da cara-metade (o casamento também precisa ser de agendas) e descobrimos todo um novo universo inexplorado de amigos em potencial, entre os amigos da esposa (aê, Jorge!!!). UFA!!!! Chega um ponto em que se torna impossível manter contato com todos e, por mais friamente pragmático que isto possa parecer, é preciso descartar alguns, sim. Quando digo descartar, não quero dizer "você não é mais meu amigo". Quero dizer que, cacete, não há como manter o mesmo ritmo de encontros, e é preciso sim estabelecer prioridades e racionar o tempo que se dispõe de uma maneira razoável. Mesmo que isso signifique manter contato somente por e-mails ocasionais, ou até mesmo não manter.
4. As pessoas passam por fases, assim como nós. Nem sempre aquele seu amigão vai ter a iniciativa de te ligar para marcar alguma coisa, ou mesmo para saber como você está. Nem sempre as pessoas serão boas companhias ou terão tempo para nós. Nesses momentos, acho válido puxar pelas pessoas, ligar mesmo quando foi você que ligou nas últimas 10 vezes, tentar criar oportunidades e não desistir delas. E, quando buscar o contato, que seja para tentar entender o que está acontecendo, oferecer o ombro/ouvido amigo e tentar ajudar. Agora, cobrar, nem pensar. Cobrança na amizade não pode existir, a não ser quando é feita após o oferecimento de ajuda, da tentativa de compreensão do que está se passando com o outro, e como último recurso para "dar uma sacudida" na pessoa. Mas, para mim pelo menos, via de regra, cobrança nas amizades é uma escrotice só.
Esse assunto é muito bom (dá-lhe, Jorge). Conforme for lembrando de mais reflexões a esse respeito, voltarei a postar.
4 comentários:
É, eu tb acho que cobrança não tá com nada.
Outro ponto muito interessante que vc tocou foi sobre as fases das pessoas. Não dá para ser o mesmo o tempo inteiro e a vida toda. Passamos por problemas, dificuldades, períodos de ausência e outros de muita participação. Mas essas fases devem ser entendidas e apoiadas pelos amigos. Porém, acho que isso é a evolução das espécies. Ainda não encontramos pessoas 100% prontas para isso.
Hahahahaha, pode crer!!!
Agora, falando sério, meus melhores amigos, graças a Deus, já estão evoluídos a esse ponto. Aliás, isso é apenas um reflexo daquela qualidade interior que os tornou elegíveis para serem grandes amigos!
Verdadeiros amigos não ficam cobrando, eles entendem quando é preciso dar um tempo.Essa coisa de fases é interessante, pois passam as fases e os amigos continuam, talvez não com a mesma convivência,com o mesmo tempo dedicado, mas sabemos que eles estarão ali.ter amigos é fácil, o difícil é mante-los.Ser amigo exige tempo e dedicação, mas também sabemos que quando a amizade é verdadeira mesmo sem termos muito contato ela sempre estará lá.No fundo o que fica é que ter amigos é bom, mas também é bom ter um tempinho prá gente também.Ótimo post J, falou bonito!!Um beijo e lnda semana!!!
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