Me lembro muito bem, principalmente a partir do ginásio, de fazer muitos exercícios em casa. Eram os chamados "exercícios de fixação". Os livros, em especial os de matemática, tinham uma teoria e em seguida, uma série de exercícios a serem feitos, que geralmente começavam por uns fáceis, até chegarem aos mais difíceis. Às vezes nem dava para resolver todos, tinha que deixar para serem perguntados ao professor na sala de aula.
Eu sempre fui de fazer exercícios, apesar de não gostar tanto assim. Mas sabia que através deles, eu estaria melhor preparado para as provas. Muitas vezes em alguns livros, havia a resolução ou mesmo a resposta. Quando eu tinha certo receio da matéria, um certo medo de errar, eu acabava desistindo e indo olhar a resolução. Daí eu pensava: "Ah, é lógico, é assim que se faz, que moleza!". Mas podem ter certeza, de moleza mesmo não havia nada. Tinha que pensar, concentrar!
Talvez naquela época eu não soubesse, mas essa concentração, todas as horas gastas queimando o cérebro para resolver algumas "questões idiotas" seria a maior lição que eu levaria da escola. Sim, hoje eu não lembro de todas as equações, inequações e fórmulas que aprendi (apesar de ainda lembrar de muitas!). Mas aquele aprendizado, aquele esforço, isso eu levei comigo e me arrependo de não ter investido mais horas nisso.
Acho que o principal motivo desse "não investimento" é de não contarem para a gente isso. Quando estamos na quinta série, ninguém diz pra gente que é importante ter raciocínio rápido na vida. Que iremos ter que escolher várias coisas o tempo todo. Que a vida é dinâmica, que nossos pensamentos e escolhas tem que ser rápidos e totalmente embasados.
Até hoje é assim. Apesar de eu não estar mais no colégio, aprendo com a vida, no trabalho, nas minhas decisões diárias. E noto que há ainda tanto a aprender. Mas cadê meus exercícios de fixação??? Acredito que eles são mais sutis hoje, porém não menos difíceis e importantes.
Todo dia tenho muitos exercícios: escolho que horas acordar, como irei ao trabalho, como será meu humor, pra quem ligarei, como irei falar, como irei me planejar, se irei malhar, se irei dormir cedo, se darei atenção às pessoas, se serei rude, se serei sereno, se, se, se....
Enfim, muitas dessas coisas aprendi com aqueles exercícios de quando era mais novo. E por ter vários amigos mais novos, vejo alguns repetindo erros que cometi e que não gostaria que cometessem. Porém, apesar de meu conselho ser valioso, eu tenho que me lembrar que dessa forma eu passo a ser um exercício resolvido. Aquele que eu olhava de vez em quando, mas que não me acrescentavam tanto quanto aqueles que eu mesmo resolvia. Lógico que minha experiência tem que ser repassada, mas eu não posso achar que uma pessoa possa aprender somente com os exercícios resolvidos. Tem de fazer os exercícios de fixação.
Eu hoje, parando para pensar, vejo quantos exercícios ainda tenho que resolver. E parece que eles não param. Matematicamente falando, parece que cresço como uma PA (Progressão Aritmética) e os exercícios vão crescendo numa PG (Progresão Geométrica). Resumindo: não dá para fazer todos os exercícios. Eu sempre quero fazer muitas coisas: fazer várias pós-graduações, voltar a estudar inglês, começar meu espanhol, aprender a tocar violão, nadar, correr, comprar um apê, viajar para Europa e por aí vai. São muitas coisas, mas não tenho tempo, disponibilidade e grana para tudo. Terei que escolher. Assim como escolhia os meus exercícios de fixação. Tomara que essas escolhas de "exercícios" me tornem capaz de fazer uma boa "prova"!!!
2 comentários:
É... esses tais exercícios de fixação pós-5a serie são terriveis mesmo. Mas aos poucos a gente vai fixando esses teoremas da vida.
Texto ótimo! Adorei!
Excelente texto, p-a-r-a-b-é-n-s!!!
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