sábado, agosto 11, 2007

Voar em tempos de crise

Lembro que quando eu era mais novo, via o ato de pegar um avião para se deslocar entre cidades, estados ou países como algo nobre. Nem todos tinham acesso. Viajar de ônibus ou de carro era mais comum, principalmente em menores distâncias, como o trecho Rio - São Paulo, por exemplo.
Vendo filmes como "Prenda-me se for capaz", pude notar mais glamour ainda nos áureos tempos da aviação. Ser piloto ou mesmo comissário de bordo era algo cercado de status. Era como pertencer a um grupo seleto, ao qual os passageiros que pudessem pagar pelas caras passagens, poderiam desfrutar dele por alguns momentos.
Quando eu comecei a viajar de avião, a Varig já estava em crise. Mesmo assim, tinha um serviço ainda impecável. Era um desafio comer todo o lanche oferecido na ponte aérea, pois o tempo era escasso. Vinha uma bandeja com salada, biscoito cream cracker, requeijão, manteiga, biscoito doce, chocolate da Kopenhager e um sanduíche muito bom, ao qual tínhamos o direito de escolher o recheio.
A TAM, por sua vez, veio crescendo e tomando um lugar de destaque na aviação. Muito se deve ao trabalho incansável do Comandante Rolim, fundador da empresa. Com um serviço muito bom, a TAM cresceu e se destacou, oferecendo serviços muito similares ao da Varig.
Daí veio a GOL Linhas Aéreas. Com um sistema de low price, a empresa focou em fornecer um serviço rápido e justo, com tarifas mais acessíveis. Daí veio o boom da aviação comercial brasileira. Muitos que nunca pensaram em pegar avião, passaram a usá-lo como um meio de transporte viável. E com isso a aviação brasileira mudou sua cara.
Como a GOL conseguiu introduzir muitas pessoas no transporte aéreo, era esperado que todos os serviços aeroportuários crescessem juntos. Mas não foi o que se viu. Na minha modesta opinião, é como se o sistema aéreo fosse um motorista acostumado a dirigir carros apenas e, de uma hora para outra, ele fosse obrigado a dirigir caminhões, ônibus e outros meios de transporte. Não havia preparo suficiente!
O meu trabalho me obriga a usar bastante o serviço aéreo. Serviço??? Pois é, o que eles menos tem prestado é serviço. Se você embarcar em cidades como Cuiabá, nem precisa passar sua bagagem de mão em detector de metais. Se for em Congonhas, Galeão ou Santos Dumont, tem que passar tudo pelo detector e ainda tirar o laptop da mala, seja ela qual for. E se for em Guarulhos, nem precisa tirar o laptop, mas precisa tirar o cinto!!! Cadê a padronização? O passageiro é diferente em cada aeroporto?
Como escrevi aqui em outro post, a TAM, além de não me levar para Buenos Aires, extraviou minha mala e depois de muita correria minha para ter meus direitos respeitados, me ofereceram uma proposta de me pagarem em torno de mil reais ou duas passagens para qualquer lugar da América do Sul. Me deu vontade de responder para eles: E se minha mala some de novo e assim sucessivamente? Poderei viajar de graça por toda América do Sul? Que legal, não??? Não pode ser sério isso.
Essa semana viajei de novo, pela GOL, que se intitula como Linhas Aéreas Inteligentes!!! No meu tempo, ser chamado de inteligente era porque realmente era merecido! Na ida, eu que havia despachado um rolo de material para amostra em um cliente, recebi da empresa uma mala. Sim, uma mala! É que meu nome, meu código localizador, minha identidade, todas essas informações estava na mala de uma outra pessoa. Ah, meu rolo apareceu também e ambos estavam com meus códigos. Despachei uma bagagem e ganhei duas. Como sou honesto, deixei a mala lá e relatei o absurdo ao funcionário da GOL, que pelo visto achou tudo muito normal...
Acharam que acabou? Não, teve a volta. Fiquei meia hora para fazer o check-in, na fila de passageiros sem bagagem. Mas o que mais se via nessa fila eram pessoas com bagagem. Eles alegaram que eram prioridades. E eu que havia chegado bem antes do meu horário é que pagaria por isso, né? Depois disso, mais 20 minutos na fila para o raio-X, no qual tive que tirar meu cinto. E depois de passar, eles nos dão 2, 3 segundos para colocar a carteira de volta no bolso, celular, relógio, cinto, pegar a mochila, o laptop. Me senti numa gincana de mau gosto. E o vôo ainda atrasou 45 minutos e ninguém pediu desculpas por isso.
Concluo que para quem quer ou precisa viajar de avião nos dias de hoje, tem que estar preparado para tudo, pagando preços altos (que ainda irão aumentar), recebendo serviços porcos, esperando para ser atendido, ficar em pé por muito tempo e ainda rezar para que sua bagagem chegue ao destino. Melhor dizendo, nem só pelas bagagens chegarem aos destinos...

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso aí, meu filho... rs Lembre-se que estamos no Brasil e aqui tudo - eu disse tudo - é possível. Ainda mais quando estamos nesse caos nos aeroportos.
Agora é exercitar a paciência....