Há muito tempo, criei o hábito de observar as crianças que encontro, filhos de amigos, sobrinhos, etc, e a forma com que seus pais as criam. Existem tópicos na criação delas que absolutamente me intrigam, e penso muito na melhor forma de educar a minha filha e conduzí-la enquanto abre seus olhos para o mundo. Um dos aspectos mais intrigantes é o seguinte:
Um tempo atrás, li um livro chamado "Punidos pelas recompensas", de um cara chamado Alfie Kohn, que virou minha cabeça. Ele critica com muita energia os chamados "reforços de comportamento", ou seja, a mentalidade de oferecer recompensas ou punições para reforçar determinados tipos de comportamento nas pessoas. Esta é uma prática largamente utilizada, não somente nas empresas, como forma de controle do comportmento dos empregados, mas também na criação das nossas crianças.
As críticas a este método são muitas, dentre as quais:
1. O método é simplista e superficial. Ou seja, não ataca a causa-raíz dos constantes "ataques de pelanca" de uma criança, contentando-se em mitigar os efeitos externos. Ou seja, o problema permanece intocado, podendo até ser mascarado. Não preciso nem argumentar o quanto isso pode ser perigoso.
2. Os reforços de comportamento eliminam a motivação intrínseca que a criança pudesse ter por si só pela tarefa ou comportamento em questão. Um efeito subconsciente disso pode ser o questionamento: se precisam me oferecer uma recompensa para fazer tal coisa, ela não pode ser tão boa assim... Tente se imaginar tendo o compromisso de se ver forçado a fazer alguma coisa que você goste muito e imagine se esse gosto vai durar muito tempo. Talvez não...
3. Os reforços possuem, muitas das vezes, um efeito transitório. Retirado o estímulo, em boa parte das vezes, o comportamento que se desejav estimular, não se mantinha, a não ser em casos simples, envolvendo reações tais como o medo, por exemplo. Pavlov, em suas experiências com cães, soprava um apito e, momentos depois, os alimentava. Após muitas repetições deste estímulo, bastava soar o apito e os cães já começavam a salivar. Muito tempo depois, a reação dos cães ainda podia ser observada, por conta do efeito de condicionamento. Muito interessante, mas é no mínimo ousado assumir que uma criança que receba recompensas por cada livro que lê, uma vez retirado o estímulo, permaneça uma leitora contumaz. Por conta do efeito número dois (citado acima), é possível que ela desenvolva até mesmo uma aversão por livros, após ter sido "manipulada" a lê-los.
Oops.... tenho que sair..... esse post continua outro dia!
2 comentários:
Como educadora devo dizer que não gosto nem uso esse "sistema" de recompensas. Ao contrário, as vezes acabo sim, recompensando um aluno pelo seu esforço, qdo percebo que ele agiu de boa vontade, sem esperar nada em troca. Dessa forma acho a recompensa interessante e o estímulo feito de forma correta. Afinal, não somos bem sucedidos todas as vezes que realizamos algo. Mas, algumas vezes nosso esforço é recompensado, não é? Penso que educar é ensinar a criança a lidar com a realidade.
Há muitas maneiras de estimular as crianças sem ter que comprá-las ou oferecer algo em troca sempre. Aliás, um erro comum, é transformar essas recompensas em objetos de manipulação. Com isso teremos adultos que só pensam em levar algum tipo de vantagem em tudo, ou, só fazem algo se estiverem lucrando com isso, ao invés de privilegiar a generosidade coisa comum hj em dia...infelizmente...
Concordo em gênero, número e grau com minha amiga Gláucia!!!
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