quarta-feira, maio 06, 2009

Só falta reunir a Zona Norte à Zona Sul

Em agosto de 1976, nascia no Hospital de Bonsucesso, Zona Norte do RJ, esse cara que vos escreve!!! Desde menino, fui criado na Penha, bairro da Leopoldina, que para quem não sabe, fica na ZN também. Durante a minha infância a Penha era um bairro do subúrbio que tinha uma população de renda média-baixa. E assim foi minha infãncia e adolescência. Passei a estudar em escola particular a partir do ginásio, enquanto minha irmã mais velha fazia curso de inglês - mas estudava em escola pública. Só dava pra pagar uma coisa para cada um e olhe lá!
Minha mãe era secretária de um consultório médico na Penha mesmo, em frente a casa da minha avó, que por conseguinte era a uma quadra da minha casa. Tudo muito perto. Meu pai tinha uma oficina de bombas injetoras, porém meus pais são separados desde que eu tinha 5 meses e a situação entre a gente não era das melhores. Logo, a pensão era pouca e quando vinha!
Mas eu me divertia muito. Tinha meus primos, meus amigos... Era estudar pela manhã, fazer o dever de casa e ir pra casa da minha avó e passar o resto do dia jogando. Eu tinha muitos jogos de tabuleiro e também jogávamos muito na rua: futebol, vôlei, basquete, ping pong, queimado, pique, botão e mais alguns outros jogos que inventávamos. Era uma festa a cada dia.
Quando cheguei no segundo grau, a coisa passou a mudar um pouco: mais horas de estudo, os sinais da adolescência mais intensos, já nem dava pra pegar mais doce no dia de São Cosme e Damião!!! rs. E foi justamente nessa época que a Penha passou a ficar mais perigosa. Os assaltos ficaram mais constantes, o nível de vida passou a cair e, dessa forma, muitos bares fecharam, o comércio foi diminuindo e com tudo isso, as pessoas, que tinham o hábito de ficarem até mais tarde na rua, passaram a ir pra casa mais cedo, tornando as ruas mais escuras e perigosas. Adeus pique esconde, adeus futebol, adeus andar de bicicleta até tarde. Infelizmente os hábitos mudaram.
Quando passei a estudar na UFF, em Niterói, minha vida na Penha passou a se resumir em casa e família apenas. Perdi muitos contatos, os caminhos foram sendo separados e eu fui conhecendo outras pessoas. Muitos são meus amigos até hoje!
Depois de formado, passei a trabalhar, a ter meu próprio carro e passei a frequentar mais a Zona Sul. Os restaurantes, baladas, amigos, tudo era na ZS, praticamente. Voltei a frequentar a praia, conheci novos lugares e novas pessoas. Meus finais de semana eram praticamente em Ipanema, Copa, Gávea ou Leblon.
No final de março, o menino que foi criado na ZN passou a ser morador de Ipanema, na ZS. Estou morando a 2 quadras da praia e a 3 da Lagoa. Apesar de estar sempre pela ZS, é bem diferente vir passear e morar. E põe diferença nisso! Em Ipanema tem muitas opções, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. É uma loucura. É só sair na rua e escutar pessoas falando em inglês, italiano, francês e outras línguas que eu nem sei reconhecer. Lugares para comer tem aos montes. Tem a praia. Tem a Lagoa. Tem a opção de fazer compra em 5 filiais do Supermercado Zona Sul, todas andando. E tudo isso eu estava acostumado, mas aos finais de semana, quando fazia sol e não dava preguiça de pegar o carro e gastar de 30 a 40 minutos para estar onde estou hoje.
O menino que fazia compra nas Sendas hoje faz compras no Zona Sul. A papelaria da Conceição foi trocada pela Papelaria Ipanema. A locadora de bairro pela Blockbuster. Porém, eu nasci na Zona Norte e trago comigo toda a experiência de viver por lá. Não me sobe à cabeça o fato de ter tudo isso hoje. Eu quero é desfrutar do melhor que a Zona Sul pode me oferecer, assim com a Zona Norte me ofereceu zilhões de coisas. Em mim há ZN e ZS. Elas convivem com o melhor de cada uma delas. Minhas origens, formação e experiência não devem ser negadas e muito menos desperdiçadas. E estou feliz com isso. Sou carioca acima de tudo!

Subúrbio
Chico Buarque


Lá não tem brisa
Não tem verde-azuis
Não tem frescura nem atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da montanha, é labirinto
É contra-senha, é cara a tapa
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário Geral
Fala, Piedade
Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade

Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança teu funk, o rock, forró, pagode, reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa

Lá não tem moças douradas
Expostas, andam nus
Pelas quebradas teus exus
Não tem turistas
Não sai foto nas revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, Inhaúma
Cordovil, Pilares
Espalha a tua voz
Nos arredores
Carrega a tua cruz
E os teus tambores

Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança teu funk, o rock, forró, pagode, reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Fala no pé
Dá uma idéia
Naquela que te sombreia

Lá não tem claro-escuro
A luz é dura
A chapa é quente
Que futuro tem
Aquela gente toda
Perdido em ti
Eu ando em roda
É pau, é pedra
É fim de linha
É lenha, é fogo, é foda

Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Encantado, Bangu
Fala, Realengo...

Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Meriti, Nova Iguaçu
Fala, Paciência...

5 comentários:

Juli disse...

Jo, ADOREI o que vc escreveu! Amei sua nova casa e tenho certeza que ela continuará te fazendo feliz, assim como a sua casa na Penha. Há momentos na vida, em que precisamos arriscar. E vc me inspira, nesta etapa de vida que estou vivendo.
Amo vc!
Juli

Rachel disse...

Oi! Já estava com saudades dos seus posts! Entendo seu potno de vista pq eu sou de Niterói e morar na ZS trás um "Q" de ficar mais velho, com responabilidades... mas mudar é preciso, crescer é preciso e nem sempre preciso. enfim! Um beijo grande, e não só pra imitar a Juli, tb amo vc!

Raquel Lobão disse...

Simplesmente amo essa música!

Raquel Lobão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Sei bem como é isso. Afinal, vim do interior e sei muito bem como é viver na Z.Sul. Tudo mais fácil, as oportunidades, mas sem nunca esquecer as origens. Graças a Deus pude correr na rua, brinca de esconde-esconde, correr atrás de doce no dia de São Cosme e Damião, etc. Coitada dessa nova geração condominio-shopping. (já descobriu quem é?rs)
Abs