"Você quer sair do gueto
Mas a sua mente é o gueto"
trecho da música Gueto - Marcelo D2
Rio de Janeiro. Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil. Ou como diria Fausto Fawcett, "cidade maravilha purgatório da beleza e do caos". Realmente, o Rio de Janeiro é uma cidade partida. Se formos simplistas ao extremo, podemos falar que o marco divisório seria o Túnel Rebouças, que "liga" a Zona Norte à Zona Sul. Mas na verdade, existem outras divisões.
No último domingo fui visitar uma obra que foi feita na minha rua, em Ipanema. É o Mirante da Paz. Esse mirante nada mais é que um local construído no Morro do Pavão-Pavãozinho. De lá, é possível ver a Praia de Ipanema e uma vista belíssima do RJ. A algum tempo atrás, seria difícil eu ter subido o morro. Mas hoje, já é possível, graças ao programa das UPP's - Unidades de Polícia Pacificadoras. O que é uma forma de construir pontes ao invés de muros. Ponto positivo. Porém, não deixa de ser uma visita ao gueto. Me senti num "favela tour", que é muito comum para os gringos no RJ.
Essa divisão na minha cidade pode ser estendida para outros lugares. Se pensarmos no Brasil, podemos chegar a tal preconceito de grandes capitais como RJ e SP com os estados do Norte e Nordeste. Dentro do Nordeste mesmo há tais guetos, por exemplo. Salvador tem a ligeira impressão de ser uma cidade diferenciada. E rola preconceito sim. Existe gueto dentro de gueto, não há como negar.
Mas também podemos enxergar essa questão de forma mais próxima a nós mesmos. São os guetos que nós vivemos e sim, muitas vezes alimentamos. Para quem me conhece, eu sou nascido e criado na Zona Norte do Rio de Janeiro. Há pouco tempo fui morar na Zona Sul. E algumas vezes escuto frases do tipo: "nossa, mas você nem parece que vem do subúrbio". Não sei se é um elogio ou um desrespeito.
Existe também o gueto de Ipanema, por exemplo. Quem mora em Ipanema e Leblon, acha longe Botafogo e tem certa implicância com Copacabana. Glória então nem merece ser chamada de Zona Sul. Dentro de Ipanema mesmo tem mais guetos. Áreas mais nobres, áreas com apartamentos melhores, áreas perto de comunidades, mais próximas ao mar, mais próximas a Lagoa, mais barulhentas...
Enfim, guetos, guetos e guetos. E quem cria tais guetos? Muitas vezes nós mesmos, por alimentá-los. Quando somos apresentados a alguém e queremos saber primeiro onde mora antes mesmo de saber coisas mais importantes e interessantes, estamos alimentando a cultura do gueto.
Comecei e termino esse post com a ideia expressa na música do Marcelo D2. Muitas vezes a gente quer sair ou fugir do gueto, mas o maior problema é que ele reside na nossa mente. Aí é mais difícil de tirá-lo, realmente!
4 comentários:
LAPA!
Genial, Jorge!
Se a gente pensar na teoria do caos, eu ousaria dizer que é este pensamento o grande responsável pelas grandes guerras...
Porque a gente de fato acaba transportando pra nossa vida uma segregação totalmente desnecessária, e o perigo é ser dominado por esta "filosofia".
Eu sou nascida, criada, e ainda vivo no subúrbio. Num lugar muito "mal visto" aqui em SP, até porque é de fato um lugar muito ruim sob vários aspectos.
Mas sou daqui. Passei a vida inteira aqui. A minha história, quer eu queira ou não, está registrada aqui. E isso não faz de mim uma pessoa melhor ou pior do que quem mora nos Jardins ou na Favela de Heliópolis, é apenas mais um dado, que pouco importa aos outros, mas que eles insistem em obter.
Toda vez que alguém pergunta: "onde você mora?", eu respondo: "por que? você vai me levar em casa?". Porque, né? Na maioria das vezes a pergunta não tem nenhum objetivo senão uma "avaliação", um "pré-julgamento". Se você disser que mora num lugar nobre, a pessoa reagirá de uma maneira. Se disser que mora no subúrbio, a pessoa provavelmente formulará uma infinidade de pré-conceitos a seu respeito, porque é totalmente influenciada pela obviedade dos níveis de cada lugar...
Uma pena. A mim não importa de onde alguém veio, ou onde alguém mora... A mim importa apenas o que esse alguém é.
É isso.
Essa rivalidade existente entre os bairros cariocas, municípios, estados etc, é muito forte na América Latina. Podemos exemplificar num micro universo como morro X asfalto, bairros X bairros, RJ X Niterói até no contexto geral de Brasil X outros países da América Latina.
Penso ser alguma questão cultural, onde o sentimento de integração e a percepção de grupos ficou deturpada. Se existe um problema em um bairro X ou Y, esse é um problema do Rio de Janeiro como um TODO, o mesmo acontece se estivermos falando de um estado, país etc.
Eu acredito que essa segregação mental, que sem dúvida é alimentada pelo próprio agente, vem de repente de uma baixa auto estima e a busca em falsos valores. Porque segregar é se isolar, o que é um comportamento fácil, ao contrário de agrupar, ajudar, integrar, que são conceitos mais complicados.
olá querido!
acho q temos a necessidade de rótulos e nos cercarmos em grupos. nada mais "natural" q rotular quem mora onde, pra se sentir daquele ou este grupo. a vida é tão dinâmica que hj quem mora lá daqui a pouco pode morar aqui e aí? os rótulos continuam? O q importa é quem mora no meu coração (suburbano, cosmoplita, grande, confortável e para pessoas especiais como vc)!
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