quinta-feira, julho 08, 2010

20 anos sem Cazuza


Ontem fez 20 anos que Cazuza nos deixava. Com certeza no dia que ele partiu, foi com ele um pouco da rebeldia, coragem e romantismo rasgado que ele colocava na sua vida e nas suas composições. O artista vai, mas a obra fica. E isso ficou comprovado nas manifestações de fãs no dia de ontem. Merecido!
Além da obra que ele deixou, que apesar de ser dos anos 80 ainda continua bem atual, a "Sociedade Viva Cazuza", liderada pela Lucinha Araújo, mãe do Cazuza, ajuda bastante a manter a chama do artista acesa. E é um trabalho que merece o louvor de todos nós. Mais uma vez, merecido!
Quando Cazuza morreu, eu tinha 13 anos. Ainda era bem novo. Mas suas canções já diziam bastante coisa pra mim. Eu admirava várias. Ele não era o meu artista favorito. Havia na época uma certa "rivalidade" (muito sadia e respeitável) entre fãs do Renato Russo e do Cazuza. Os que cultuavam Renato, admiravam Cazuza também, mas não os comparava. E vice-versa. Nessa divisão, eu ficava do lado do Renato. O achava mais interessante que Cazuza, que pra mim era mais visceral. Já Renato, mais reflexivo.
Hoje, passados alguns anos e algumas experiências, Cazuza acaba dizendo mais coisas para mim. Escuto muitas músicas e me reconheço nelas. Ele expressava uma certa acidez nas canções, mesmo as mais românticas e isso combina mais comigo nos dias de hoje. Pra citar uma delas, em "O nosso amor a gente inventa (Estória Romântica)" ele começa a música dizendo "O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer...". Pois é, quantas vezes isso já aconteceu comigo? Uma, duas, três, enfim, perdi as contas. E depois, realmente, "te ver não é mais tão bacana quanto a semana passada".
Cazuza nos deixou um legado que vai perdurar por muitos e muitos anos. Foi um poeta do rock, assim como Renato. A eles, nossa homenagem e eterna gratidão, por expor vários dos nossos sentimentos em canções, que nos fazem pensar, refletir, discutir, chorar etc, etc, etc...

terça-feira, julho 06, 2010

Guetos

"Você quer sair do gueto
Mas a sua mente é o gueto"

trecho da música Gueto - Marcelo D2

Rio de Janeiro. Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil. Ou como diria Fausto Fawcett, "cidade maravilha purgatório da beleza e do caos". Realmente, o Rio de Janeiro é uma cidade partida. Se formos simplistas ao extremo, podemos falar que o marco divisório seria o Túnel Rebouças, que "liga" a Zona Norte à Zona Sul. Mas na verdade, existem outras divisões.
No último domingo fui visitar uma obra que foi feita na minha rua, em Ipanema. É o Mirante da Paz. Esse mirante nada mais é que um local construído no Morro do Pavão-Pavãozinho. De lá, é possível ver a Praia de Ipanema e uma vista belíssima do RJ. A algum tempo atrás, seria difícil eu ter subido o morro. Mas hoje, já é possível, graças ao programa das UPP's - Unidades de Polícia Pacificadoras. O que é uma forma de construir pontes ao invés de muros. Ponto positivo. Porém, não deixa de ser uma visita ao gueto. Me senti num "favela tour", que é muito comum para os gringos no RJ.
Essa divisão na minha cidade pode ser estendida para outros lugares. Se pensarmos no Brasil, podemos chegar a tal preconceito de grandes capitais como RJ e SP com os estados do Norte e Nordeste. Dentro do Nordeste mesmo há tais guetos, por exemplo. Salvador tem a ligeira impressão de ser uma cidade diferenciada. E rola preconceito sim. Existe gueto dentro de gueto, não há como negar.
Mas também podemos enxergar essa questão de forma mais próxima a nós mesmos. São os guetos que nós vivemos e sim, muitas vezes alimentamos. Para quem me conhece, eu sou nascido e criado na Zona Norte do Rio de Janeiro. Há pouco tempo fui morar na Zona Sul. E algumas vezes escuto frases do tipo: "nossa, mas você nem parece que vem do subúrbio". Não sei se é um elogio ou um desrespeito.
Existe também o gueto de Ipanema, por exemplo. Quem mora em Ipanema e Leblon, acha longe Botafogo e tem certa implicância com Copacabana. Glória então nem merece ser chamada de Zona Sul. Dentro de Ipanema mesmo tem mais guetos. Áreas mais nobres, áreas com apartamentos melhores, áreas perto de comunidades, mais próximas ao mar, mais próximas a Lagoa, mais barulhentas...
Enfim, guetos, guetos e guetos. E quem cria tais guetos? Muitas vezes nós mesmos, por alimentá-los. Quando somos apresentados a alguém e queremos saber primeiro onde mora antes mesmo de saber coisas mais importantes e interessantes, estamos alimentando a cultura do gueto.
Comecei e termino esse post com a ideia expressa na música do Marcelo D2. Muitas vezes a gente quer sair ou fugir do gueto, mas o maior problema é que ele reside na nossa mente. Aí é mais difícil de tirá-lo, realmente!