Esse blog é dividido por 2 homens, portanto tem uma visão masculina dos fatos. Eu disse masculina e não machista. Existe uma grande diferença!!!
Uma amiga minha, que já foi minha estagiária (sim, estou ficando velho!!! - risos), escreveu um texto que achei bem interessante. Depois de ler, eu pedi autorização à mesma para publicá-lo aqui no blog, pois achei uma visão interessante sobre um assunto por aqui já levemente abordado. Esse texto será publicado em uma revista da UERJ, já que a Liliany é mestranda lá!
Portanto, com vocês, uma visão feminina sobre convenções. Vale a pena ler!!!
Convenções? É de comer?
Por Liliany Samarão
É engraçado pensar numa sociedade cheia de convenções. Na verdade, tento não pensar. Muitas vezes, finjo até não saber o que é uma convenção. Outro dia estava conversando com um professor (talvez seja mais adequado chamar a conversa de 'discussão intelectual') e caímos nessa tênue linha. Discutimos papel da mulher, como a mulher é vista e, por incrível que pareça, descobri um intelectual extremamente ligado às convenções. Não posso dizer que ele é machista, porque não é. É, sim, um cara que sabe que está cercado de convenções e, como o nome já diz, está convencionado a elas. Portanto, sabe o que esperar de uma mulher, afinal, "é tudo uma questão de convenção", diria ele. Ok, ok. Eu também sei que tudo é questão de convenção. Como também sei que nem todas as convenções são para serem seguidas. Fico pensando (e falei isso a ele) como vai ser quando eu tiver uma filha. O que falar pra ela no instante em que a "pobre menina" falar que quer perder a virgindade antes dos 18, que quer viajar com os amigos, que não quer vestir rosa pq não gosta, que quer andar de mãos dadas com sua amiguinha. Ora, por questões de convenções, a menina não pode perder sua virgindade antes do casamento (que dirá antes dos 18), não pode viajar com os amigos sem acompanhamento adulto (e q nessa viagem tenha só meninas!) E claro, outros fatores que a sociedade escolheu para nós, mulheres: rosa é cor de menina e meninas que andam de mãos dadas são lésbicas. O que falar então pra minha suposta filha? Taí o fator que eu falava anteriormente: eu sei que algumas convenções não precisam ser seguidas. E tenho esses parâmetros por mim mesma. Nasci numa família tradicional: pai, mãe, avós, todos católicos. Minha escola era católica e tinha todo um ritual diário para que fosse seguido: o sapato era preto, a presilha do cabelo deveria combinar com a cor da saia do uniforme, a mochila também, debaixo da saia (obviamente enrolada no cós logo que se passava pela 'patrulha') um short para evitar que a calcinha aparecesse. Eu e meus irmãos (mais velhos do que eu) fomos criados nessa família que acredita que a tradição pode salvar a sociedade. Muito cedo descobri que as convenções não eram para mim. Mas entendam, não tenho nada contra as regras e as leis. Existem e eu as cumpro. Apenas quis fugir de um futuro que me parecia "sem graça": a mulher ficar em casa à espera do marido, cuidando dos filhos e da casa e que se dá por satisfeita com isso. Melhor dizer aqui, também, que não tenho nada contra quem escolhe esse caminho. Ele só não é pra mim. Mas decidi que faria mais. Fiz todos aqueles cursinhos que poderia fazer, me graduei e hoje, no mestrado, olho pra trás e vejo que minha vida foi uma fuga às convenções. Nunca aceitei que me falassem "não". O 'não' deveria ter motivo e que esse motivo me fosse, completamente, satisfatório. Casar? Ter filhos? Sim, até poderia acontecer (como o casamento, realmente, aconteceu), mas que isso não fosse uma força que atraísse mais convenções. No meu círculo de amizade sou aquela que 'olha com o olhar masculino', aquela que pode perguntar qualquer coisa, mais expansiva. Não, não me fiz um homem. Pelo contrário, como costumo dizer, sou menina, sim. Mas não me deslumbro com a publicidade de cosméticos, de roupas de banho, de biquínis. Não paro mesmo quando me olham e falam: "mas você é mulher" (acreditem, isso já aconteceu). Não aceito que a sociedade me diga que cor gostar, que devo usar saias, cabelos grandes e soltos, maquiagem. Eu sou eu. Indíviduo que sabe seus gostos, sabe seu caminho e sabe quem é.
Mas o texto era sobre a conversa com meu professor. Sim, ele entende sobre convenções. Sabe que quando casar vai ter a esposa em casa esperando com a comida pronta. Sabe disso não porque é machista, mas porque sabe que as convenções existem. E que permeiam nossas relações na sociedade. Eu sempre serei a mulher que deve seguir as regras do 'jogo', ele sempre vai ser o jogador que sabe (e deve) dar as cartadas. Procuro razões para isso e não encontro. Críticas? Muitas. O movimento feminista deixou de existir. Morreu e hoje o que temos são convenções não 'quebradas', não discutidas, apenas, seguidas. Se eu quero ser como minha avó, minha mãe e minha irmã (que não conseguiu fugir de tanta tradição)? Nem acho que a questão seja essa. Ser como elas, absolutamente crentes nas convenções da sociedade, é ignorar toda minha fuga a esse "mundo". Mas sou parte delas.
E esse meu professor, que sabe o que diz, me deixou com uma pulga atrás da orelha: seria eu um ser em extinção? Será que assusto os homens por minha independência, meus ideais e, acima de tudo, por fugir tanto de convenções? Não sei, mas talvez eu possa ser um objeto de estudos no futuro. Talvez eu não possa mudar as convenções, mas possa criar minhas próprias e minha (ou meu) filha (filho) talvez possa desfrutar desse "desvio" e experimentar uma vida mais 'fácil' mas ao mesmo tempo muito mais 'julgável' (se é que essa palavra existe).
E quanto ao professor? Ah! Ele vai continuar na sua rotina de convenções. Porque afinal de contas o que vale nem é seguir tais regras, mas ser beneficiado por elas, e convenhamos, qual homem não é beneficiado quando o assunto é a mulher e as convenções que regem essa sociedade?
3 comentários:
Ai q fiquei toda boba!! rs
'Brigada, sempre, pela força e pela amizade!
beijo!
Muito legal, o texto! Sinceramente, o home hoje em dia que ainda esteja atrás de uma Amélia deveria se tratar...
Mas, infelizmente, esse negócio das convenções sexistas está longe de acabar. Ainda existe muito machismo, ativo ou por omissão e conveniência.
Também existem muitas mulheres que fazem uso do referencial feminista só quando lhes convém, lutando para não perder determinados privilégios ligados às convenções do sexo "frágil".
Mas vamos lutar para mudar isso! O gado humano tem muita inércia, é muito acomodado, mas uma hora acaba mudando de direção. O processo demora, mas acho que é inexorável.
Bjs
Não considero a Liliany como um ser em extinsão, mas sim como uma nova versão feminina.
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